Fonte: O Globo
Abel Braga sobre a volta de Fred: ‘Não posso punir o time’
Publicada em 12/08/2011 às 00h02m
Gian Amato (gian.amato@oglobo.com.br)
RIO – Abel Braga completa dois meses de Fluminense hoje. Desde a estreia no Dia dos Namorados, em 12 de junho, com a derrota para o Corinthians por 2 a 0, o técnico não viveu uma lua de mel com a torcida, mas reconquistou o prazer de um velho amor: o Rio de Janeiro. Ontem, foi ao teatro com a família, costuma caminhar no Leblon, mesmo quando o time perde e precisa ouvir piadas, e não abre mão de beber vinho português na companhia de Celso Barros, presidente da patrocinadora do Fluminense. Abel vai doar dinheiro para a reforma de Xerém, recebeu propostas, e garantiu que o clube já tem o local para fazer o CT, mas acha um porre a polêmica de Fred com a torcida na saída de um bar. Ele garantiu ao GLOBO, em duas horas de conversa em seu apartamento no Leblon, que o atacante só voltará ao time no domingo “se estiver com a cabeça legal”.
VOLTA DE FRED
“Não depende só de mim. Se estiver pronto, vai jogar. Mas há muita mídia e a coisa ficou fora da normalidade. Ele treina todos os dias, está há dois anos como destaque e criou a mística dos guerreiros, mas uma hora chega no limite. Não posso confundir as coisas. Não posso punir o time, mas há situações que te levam a isto. Não adianta se não estiver com a cabeça legal.”
JOGADOR CELEBRIDADE
“O torcedor quer cada vez mais do jogador, que tem o seu lado humano. É jovem, tem dinheiro, mulher, amante, carros e quer conhecer gente. É normal, mas dentro do limite.”
NOITADAS X TREINO
“O jogador joga no domingo. Nos dias seguintes, tem vida normal, como eu e você. Pode ter um ou outro que exceda, mas tem que ter controle. Se chegar sem condição, não suporta o treino. Hoje (ontem), Digão, Márcio Rosário e Marquinho treinaram com amigdalite e um pouco de febre. Se estão assim, por que treinam? Porque gostam do grupo.”
ORGANIZADAS DENTRO DO CLUBE
“Se este é o processo, é porque foi aceito pelos dois lados e não sei como vai ser quebrado. Receber o torcedor de uma organizada é uma coisa. Não pode invadir treino. Nas Laranjeiras, não deixo nem dirigente entrar em campo. Só se eu chamar.”
RELAÇÃO COM PATROCINADOR
“Eu escuto tudo, mas meu time ninguém escala. O Celso comenta, sim, a gente janta junto… Houve um jogo em que ele perguntou por que só um atacante. Respondi que havia ganho do Palmeiras assim. Tem que ter jogo de cintura. O Celso é fanático, torcedor mesmo. Basta ter um bom nome, ela pensa nos números e diz: ‘Vou te dar fulano’. Às vezes, o jogador de nome vem te atrapalhar. Aconteceu isto em 2005. Mas ele tem amor pelo clube. Foi de jatinho para Minas Gerais ver o jogo com o América…”
PETER SIEMSEN
“O presidente é um gentleman. O problema é o estado que ele pegou o clube e a preocupação em como vai entregar ao sucessor. Se fizer o centro de treinamento, entra para a história. Mas (o clube) tem dívidas enormes. Eu, por exemplo, para sair, não tenho multa rescisória nem nada. Tenho dinheiro para receber do clube de 2005. Vou pegar e doar para as obras de Xerém (olha para a foto do alojamento de Xerém caindo aos pedaços, antes da reforma). O clube me paga 10%. O patrocinador, o restante.”
CENTRO DE TREINAMENTO
“Já tem o local e o orçamento para começar a obra. Vamos para lá no próximo ano. Será um passo gigantesco e depois vamos em busca de um estádio, porque não podemos ficar pedindo emprestado.”
PRESSÃO POR RESULTADOS
“Sou como os outros treinadores. A diferença é que eu gosto do Fluminense, e o Fluminense gosta de mim. Mas isto não significa que vou ser eterno aqui. Acho que todos os treinadores pensam assim.”
PROPOSTAS
“Recebi proposta agora e também naquele tempo de espera de três meses antes do Fluminense. Não sou um treinador ruim nem sou excelente. Nada disto. Mas tenho uma conduta correta. Não tenho ligação com empresário nem coisas deste tipo. Se alguém liga para oferecer um jogador, eu passo o telefone para o Celso e o Sandro Lima (vice de futebol).”
GOLEADA PARA O LANTERNA
“Não falei para ninguém isto, mas sentimos demais, fisicamente, o jogo com o Internacional neste último domingo contra o América-MG. Não é para justificar nada, porque a atuação foi horrorosa. Mas eu também sinto a pressão junto com eles. Acaba o jogo e ainda fico com dor. Em campo, estou nervoso, gordo, pareço um louco, tomo homeopatia, minha mulher não me reconhece. É que eu sofro pela relação com o clube.”
FERNANDO BOB X VALENCIA
“(Pausa) O Valencia eu gosto de usar como vou usar agora, na primeira função de meio-campo. Mas qual o problema do jogador vindo de Xerém? Temos que ter jogadores da base no time. Quando fomos campeões mundiais com o Internacional, tínhamos o Alexandre Pato. O Bob é um grande jogador. O Muricy tentou levá-lo para o Santos… E o Muricy, de bobo, não tem nada.”
SOUZA ABAIXO DA MÉDIA
“O Souza faz jogos bons e outros mais ou menos. Está pagando o mesmo preço que o Conca pagou por ser o único armador do time. Mas não tem problema. Desde que cheguei aqui, ele não se machuca e faz várias funções para o time. Só que estou com ele como um organizador de jogadas. E ele não é um organizador nato e, neste momento, não tenho outro jogador para a função.”
FALTA DE CONCA
“Sentimos a saída do Conca até hoje, claro. Lamento muito. Mas eu não tinha o direito de pedir para ele ficar, porque era uma proposta imperdível para o jogador, impossível de acontecer de novo, ainda mais que ele não vinha em um bom nível este ano. Seu jogo mudou, porque ele voltava para marcar, ajudar lá atrás e eu dizia: ‘Deixa os caras correrem para você’. Mas ele queria ajudar e se prejudicou em campo. Este era o Conca.”
PRESENÇA DE DECO
“Para o grupo, é um jogador essencial. Estive com ele poucos minutos, muito rapidamente e ele está tratando a lesão (batata da perna direita). Eu gostaria de ter este jogador em condições físicas. Sou fã dele. Mas ele ficou muito tempo na Europa, o futebol aqui está diferente… Nós sabemos que, quando ele começar a deixar de ter problemas, não iremos mais escalar o jogador quarta-feira e domingo. Queremos ele de domingo em domingo. Porque de outra maneira é impossível para ele. Gostaríamos de mantê-lo no grupo, mas dentro do clube costumam dizer que ele não tem salário baixo. Para mim, o que interessa é se tem qualidade. Tem? Então eu quero para o time.”
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