Por Cleber Aguiar – Para Coutinho, gol mais bonito feito por ele foi anulado na Itália

Fonte: Folha Online

RAFAEL VALENTE

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De óculos escuros, chave do carro na mão, Coutinho, 70, chega à Vila Belmiro para atender a reportagem da Folha. Mas quem faz as primeiras perguntas é ele.

“Quanto tempo vai durar essa entrevista? Você vai gravar?”, diz o atacante bicampeão do mundo pelo Santos em 1963, que tem 457 jogos e 370 gols pelo clube alvinegro.

 

A preocupação com o tempo ficou de lado assim que o ex-jogador começou a falar da conquista contra o Milan após três jogos duros. Aí, ele voltou a viajar no tempo.

 

Entre as histórias relembradas, afirmou, com exclusividade, que foi na Itália, na derrota por 4 a 2, que fez aquele que considera o gol mais bonito da carreira.

 

Acompanhe esta história na terceira reportagem especial sobre o título de 1963.

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Folha – Foi o título mais importante da sua geração?
Coutinho – Todo título é importante, não dá para discriminar A, B ou C. Aquele foi um dos mais importantes e sabemos hoje. Na época, foi mais um jogo, mais uma taça.

Qual a principal lembrança que você tem da conquista?
No primeiro jogo, na Itália, a lembrança maior que tenho é um gol que fiz e foi anulado de forma errada. Acho até que foi um dos gols mais bonitos da minha carreira.

Na época, a Folha relatou que o gol foi anulado por ter tido um toque de mão…
Para mim isso é novidade. Não usei a mão. Usei as pernas, foi de bicicleta. Na verdade, foi de voleio. O árbitro deu pé alto no cara que estava chegando para me marcar.

Então, como foi esse gol?
O Dorval cruzou na área, aí teve um rebote e a bola veio viajando. Olhei para o gol e vi o que poderia fazer. Dei uma meia bicicleta. A bola entrou. Foi um dos gols mais bonitos de toda a minha carreira. Acho que seria o empate por 2 a 2. Foi um erro grotesco do árbitro. Mas tudo bem, passou e a vida continua.

A derrota por 4 a 2 na Itália preocupou o time?
Nada estava perdido para nós. Tínhamos uma equipe que dificilmente perdia duas seguidas. Que me lembro acho que nunca passei por isso. De perder em um sábado ou em um domingo e depois numa quarta ou numa quinta. No jogo de volta, no Maracanã, tivemos uma surpresa muito grande. Com 16 minutos, já estava 2 a 0 para o Milan. Mas fizemos um segundo tempo fabuloso debaixo de uma chuva tremenda. Foi magistral. Dois chutes do Pepe de longa distância, a especialidade dele, depois um gol do Lima e um gol do Mengálvio de cabeça… dá para imaginar, um gol de cabeça do Mengálvio? Era para o Santos ser campeão mesmo. Foi fabuloso.

O terceiro jogo também foi tão intenso?
Tivemos o heroísmo do falecido Almir. Pelé não jogou os dois jogos no Maracanã. O Almir o substituiu e foi uma das grandes figuras dos jogos. Até no pênalti que o Santos conseguiu ele foi leão, foi herói. Ele botou a cabeça no pé do goleiro [na verdade, o lance foi com o ex-zagueiro Maldini] e o juiz transformou em pênalti, que o Dalmo com grande maestria, muita calma, muita paciência, cobrou. Tem até o detalhe que ele correu para a bola para bater o pênalti, o goleiro saiu ao encontro dele e ele refugou, não bateu. Aquilo foi de uma calma do Dalmo fora do comum. Em seguida, ele bateu o pênalti, fez o gol, ganhamos por 1 a 0 e fomos campeões. Acho que foi importante pelos detalhes. Passamos um sufoco, perdemos lá de 4 a 2, tínhamos de ganhar por quatro gols aqui e sofremos dois gols, revertamos o placar e depois conseguimos uma vitória de 1 a 0 e fomos campeões. Tudo isso dá um sabor maior de satisfação.

Houve muita provocação por parte dos italianos? Os jornais relatam até que foi uma partida violenta.
Cara feia nunca me assustou. Eles chegavam junto nas jogadas. O futebol italiano é assim, de marcação forte. Vai de cada um saber se desvincilhar e rebater com a mesma moeda. Eu rebatia. Para mim não houve essa violência toda que falam. A marcação foi forte. Eles chegavam junto, fungavam no pescoço -como a gente costuma dizer-, mas vai da habilidade, da criatividade de cada para se sobressair. Não foi dessa violência toda. Foi um pouco de exagero. Se você é atacante, como eu, Pelé, Pepe, Dorval, ninguém vai olhar você e bater palma. Vão chegar juntos.

Uma das histórias é que o brasileiro Amarildo, então atacante do Milan, provocou muito e teve o troco no Rio.
Tanto é que o Almir deu uma pegada feia no Amarildo. Mas já era uma rincha de clube. O Almir jogou no Milan junto com o Amarildo. O Amarildo tinha um tantinho a mais de moral no Milan que o Almir. Então, ficava meio esquisito. O Almir gostava de tomar a cervejinha dele e talvez o Amarildo não o acompanhasse. Acho que a rivalidade veio disso. O Almir se sentiu humilhado quando passou pelo Milan e ele deu o sangue para ganhar. No lance do pênalti, ele deu a cara para o goleiro chutar e, assim, sofrer o penal. Por isso ele foi a grande estrela do Santos na vitória do Mundial. O Ismael também fez falta feia no Amarildo. Ele realmente falou umas graças, mas talvez não tenha sido intencional. Talvez ele falou uma coisa e a imprensa italiana colocou outra coisa.

É verdade que o Amarildo foi vaiado pelo Maracanã ou é exagero?
As vaias ao Amarildo aconteceram. O Maracanã era nosso. Tanto é que o segundo time da maioria dos cariocas é o Santos Futebol Clube. Não sei se é hoje. Na época nossa era. Tanto que disputamos Libertadores e Mundial no Maracanã. De todos os jogos, os mais importantes fizemos no Maracanã. E pegamos sempre aquele campo lotado com aquela torcida fabulosa. Somos agradecidos aos cariocas por ajudar bastante.

O que mudou da sua época para o presente?
O jogador de futebol muda muito de vida. Hoje você está no Santos, amanhã pode estar no Corinthians ou no Palmeiras. Hoje é uma várzea a troca de clube, uma vergonha. O cara sai de um time e chega no outro beijando a camisa. Se eu fosse diretor de clube ou presidente, jogador que chegasse beijando o distintivo estava fora. Acho de uma falsidade. De manhã joga em um clube, de tarde joga em outro e de noite joga em outro. Fica desagradável. Apesar que o amor como nós tivemos pelo Santos acabou, não existe mais, é passado. Aquele lance de joga no Brasil de manhã e de tarde joga na Europa.

Será que o fato de o futebol envolver muito dinheiro hoje ajudou a acabar com o amor que você descreve?
O dinheiro existe, se é muito ou é pouco, não importa. De graça ninguém joga. Acho que o amor acabou. O amor de você gostar. Eu gosto do Santos até hoje. Cheguei aqui com 13 anos de idade e hoje tenho 70. E sou Santos. Moro na Vila Belmiro. É uma questão de amor. Joguei 15 anos no Santos. O Pepe jogou 20 anos, o Pelé também. Dorval jogou 17. Mengálvio jogou 15. Isso chama-se amor ao clube. Não é uma coisa de passar um tempo e ir embora. Nós éramos muito amigos e somos ainda hoje. A amizade nossa é eterna. A gente se gosta muito.

Vocês tiveram oportunidade para sair do Santos, não?
Isso houve com todo mundo. Não só com o Pelé. A Juventus da Itália me queria. O Boca Juniors me queria. A Inter de Milão me queria. O Atlético de Madri me queria. O Valencia me queria. É que nunca nos preocupamos com isso. Outra coisa. A gente pensava da seguinte maneira: nós jogamos em um time que se jogarmos dez vezes em um mês vamos ganhar 11. O Santos era assim. A gente pensava: sair daqui para bater cabeça por aí, mas não vou mesmo! Nunca pensamos em sair. Nunca um diretor chegou na gente para isso. Eles tinham tranquilidade para trabalhar com a gente e nós também. Tínhamos diretores de moral. Nicolau Moran, Athiê Jorge Coury, Modesto Roma, Renê Ramos, Carlo Angerami, Augusto da Silva Saraiva… tínhamos gente de respeito na diretoria. Gente que se falasse ‘A’ era ‘A’. Nós confiamos neles e eles na gente. Foi por isso que o Santos conseguiu fazer um time fabuloso.

O que diferenciava aquele time do Santos dos outros?
Tínhamos craques em todas as posições e nosso time sempre foi moleque, com muitas brincadeiras. Isso continua até hoje. Só havia seriedade quando entrávamos em campo.

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Por Cleber Aguiar – Muricy Ramalho: ‘Ganhar no São Paulo tem sabor diferente’

Fonte: O Estado de São Paulo

Técnico abre o jogo ao Estado e fala sobre desafio de reerguer o clube, carreira
e futuro

Fernando Faro – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – Muricy Ramalho enfrentou 33 minutos de entrevista coletiva antes de se encontrar com a reportagem do Estado. Com semblante mais sereno, deu risada ao lembrar sua relação turbulenta com os jornalistas – “cara, que chatice que é isso” – mas garante estar mais tranquilo.

Muricy Ramalho tirou o São Paulo da crise - José Patrício/AE
José Patrício/AE
Muricy Ramalho tirou o São Paulo da crise

E de fato foi preciso serenidade para aceitar o convite para, quatro anos depois da última e vitoriosa passagem, comandar o São Paulo na crise mais grave da sua história. Menos de dois meses depois, o Tricolor deixou a zona de rebaixamento e ocupa a nona posição na tabela e está em vantagem nas quartas de final da Sul-Americana. Pouco para a tradição do clube, mas um céu de brigadeiro para quem tinha pesadelos com a queda.

Ainda sem renovar o contrato – o que não será um problema para acontecer – o treinador avaliou seu retorno ao Morumbi, analisou o que mudou no período de ausência e voltou a falar do desejo de se aposentar no clube de coração. “Cesci aqui dentro”.

ESTADO – O que mudou nesses quatro anos de ausência? MURICY RAMALHO – Perecebemos que a estrutura do CT melhorou muito, mas isso é uma coisa natural do São Paulo e da gestão do Juvenal, ele adora melhorar o clube, não só o CT como também Cotia e a sede, isso é uma coisa dele. Ouvia que estava melhor e de fato está. O que não estava bom era o ânimo das pessoas porque a situação não estava boa mesmo. Seguranças, funcionários, essas pessoas que trabalham e fazem a diferença, estavam com a autoestima baixa, mas é algo normal. Mas fisicamente o clube melhorou muito.

ESTADO – Mesmo de fora você imaginava o que daria para fazer para melhorar o time? MURICY RAMALHO – A gente imagina, claro, mas tomar a decisão no sofá é muito fácil, você sempre vê as coisas depois que elas aconteceram e você está sem nenhum tipo de cobrança, como era quando o Paulo estava aqui. Mas sei, como técnico, que não é assim, que as coisas não são como você pensa. Foi assim comigo aqui, não imaginei que estivesse tão ruim como de fato estava; de longe era ruim, mas aqui era pior. Claro que eu me punha às vezes no lugar dele, mas não dava para dizer que faz isso ou aquilo, o técnico que pensa assim não tem milagre. Fiz a diferença porque tem aquele lado da torcida estar comigo e vir junto. Meu perfil é muito voltado para ter o time mais determinado e vibrante, mas com certeza tinha muitas dúvidas em relação a isso aqui.

ESTADO – Acha que se tivesse vindo antes não teria conseguido arrumar o time? MURICY RAMALHO – Poderia acontecer igual ao Paulo (Autuori, demitido após dois meses). Não tem milagre. Aquele momento foi muito ruim para o time porque desgastou, ele não conseguiu treinar o time em momento algum e depois teve que jogar terça, quinta, sábado e domingo, não tem milagre para isso. As pessoas pensam, “ah, se ele tivesse chegado antes”…não teria acontecido nada porque as coisas não são assim. O Paulo um p… técnico, foi campeão aqui e em todo lugar, a questão é que ele pegou um momento muito ruim que foi o da viagem, infelizmente.

ESTADO – Em algum momento achou que o time de fato fosse cair? MURICY RAMALHO –

Só achava que estava muito difícil mesmo. A autoestima estava muito baixa e o ambiente pesado, se você não ganha a desconfiança é grande. A gente sempre tem esperança e não pode desistir, o cara que comanda não pode baixar a cabeça nunca, tem sempre que estar com a cabeça erguida e dando força para quem precisa. Mas achava, e continuo achando, que a coisa está muito difícil e precisamos trabalhar muito duro para sair dessa situação.

ESTADO – E por que você conseguiu e eles não? MURICY RAMALHO – Se você não ganha, não tem jeito. Não vão te olhar com carinho, as pessoas aqui gostam de mim porque ganhei muito. O torcedor acredita em mim porque acha que eu posso mudar o ambiente, sou um treinador que vai atrás dos objetivos traçados pela diretoria, me entrego demais e o torcedor acredita nisso. Claro, tem o trabalho do dia a dia, saber escalar, tirar, mexer, treinar o time. Isso é muito importante, não dá para ficar só no “vamos lá”.

ESTADO – Se ganhar da Portuguesa dá para pensar só na Sul-Americana? MURICY RAMALHO – Não podemos ter esse pensamento até porque há um mês ninguém falava de Sul-Americana de tanto desespero. Temos que continuar trabalhando forte no Brasileiro e sendo inteligentes porque temos jogado e viajado demais, mas o bom é que hoje temos um time recuperado, dá para fazer os dois campeonatos bem porque podemos usar os jogadores que estão à disposição.

ESTADO – Quantos minutos vai demorar para você renovar? MURICY RAMALHO – Dessa vez não deu nem para discutir (Risos). Foi muito rápido, não seria legal da minha parte em pensar em contrato. Tinha que vir para ajudar, outro pensamento não daria certo e meu contrato ficou para depois. Nunca tive problema com o São Paulo para renovar contrato e acho que dessa vez não vai ser diferente. Sou muito justo no que faço, não sou um maluco que se aproveita das oportunidades. Vai ser como das outras vezes, que demorou pouco para resolvermos. Não vai ser diferente agora.

ESTADO – Ainda sem falar em nomes, como vê o elenco para o ano que vem? MURICY RAMALHO – Nossa equipe é desequilibrada em alguns setores em que precisamos caprichar. O segredo é diminuir o erro, porque inevitavelmente você erra. Mas estamos numa situação que não deu para sentar e conversar, jogamos todo dia e precisamos planejar as partidas, infelizmente vamos sair atrás porque a situação levou a isso, não porque o clube não se planejou. Não dava para pensar no ano que vem sem pensar no agora, ficou uma situação muito ruim e vamos ter que caprichar muito, mas muito mesmo na montagem. Temos que olhar com carinho quem vai chegar, as datas, o calendário. Se não fizermos isso não teremos chances.

ESTADO – Qual sua participação na montagem do elenco? Vai aceitar quem a diretoria quiser trazer? MURICY RAMALHO – Em todo time que trabalho podem vender quem quiserem, não me meto nisso. Lembro de quando venderam o Josué e o Mineiro e foi uma luta, mas disse que iríamos nos virar e surgiu o Hernanes e o Jean. Quem sai não me importo muito, mas tenho que dar opinião de quem chega, senão não adianta. De que serve se a diretoria chegar e me dizer que vai contratar um jogador? Vai trabalhar com eles ou comigo? Quando vão atrás de um jogador precisa perguntar para mim, não sou o técnico? Sou eu que tenho que concordar ou não e vou opinar. Se for o técnico do São Paulo, claro.

ESTADO – Você cobrou duas vezes a diretoria para renovar com o Rogério. Eles te passaram algo? MURICY RAMALHO – Não tive nenhuma conversa sobre esse assunto e nem sobre o ano que vem porque preciso estar focado no que estamos fazendo agora. Não recebi nada oficial, mas o que percebemos é que o Rogério está mais aliviado e mais feliz com o momento do clube, é difícil você encontrar alguém motivado em um momento ruim como era o nosso, ele estava tenso como todos. Agora pode ser que ele pense diferente; claro que é um cara muito definido no que faz, tem uma família acertada e seus objetivos. Mas a gente vê que ele está diferente, mais feliz. É hora que dá para conversar com um pouco mais.

ESTADO – Cogita conversar com ele para pedir que fique? MURICY RAMALHO – Sou amigo particular dele, mas é uma situação profissional e cabe a ele decidir. Ele sabe o que penso porque já falei publicamente, mas sou muito frio para analisar. Acho que ele está num momento muito bom físico, para agarrar – porque eu não confundo com essa história de bater pênalti. Ele como goleiro está muito bem, fisicamente está muito bem numa fase complicada, porque nessa idade o joelho do cara complica, a parte lateral fica bastante prejudicada. É uma opinião que tenho, mas ele que tem que definir.

ESTADO – O clima político se deteriorou muito desde sua saída. Como enxerga esse ambiente? MURICY RAMALHO – É como todo processo, todo mundo tem opiniões diferentes. Mas é claro que todas as opiniões têm que estar voltadas para o São Paulo, todos no processo têm que pensar no São Paulo. Não existe ninguém maior e mais importante que o clube. Ninguém. Nenhuma pessoa é mais importante que o clube, as pessoas que estão no processo precisam saber disso.

ESTADO – A maior crítica ao seu último trabalho aqui foi a falta de títulos no mata-mata. Vencer um aqui tem sabor diferente? MURICY RAMALHO – Era a Libertadores que eles reclamavam porque é um campeonato muito importante para o clube. Ganhar é sempre bom e importante em todos os lugares, mas claro que no São Paulo passa a ser uma coisa muito diferente porque nasci aqui e tenho uma história aqui, e quando você tem uma história e ganha, essa história aumenta. As pessoas vibram mais, você sente. Para treinador é fundamental ganhar no Brasil, se não vence não tem chance independente do carinho que tenham por você e por isso que temos que ganhar sempre. Mas claro que ganhar no São Paulo é diferente.

ESTADO – Você sente seu trabalho reconhecido pelos outros? MURICY RAMALHO – Basta ver os convites que recebo. Não posso ficar na mão de pessoas porque pessoas têm sentimentos. Às vezes você depende de uma opinião de uma pessoa e ela é do mal, negativa. O ser humano é cheio de manias, alguém pode falar “aquele não é legal porque não é simpático” ou “esse não é legal porque não é brilhante intelectualmente”. Isso para mim não serve para nada, para mim o único parâmetro para reconhecer um profissional, não só um técnico de futebol, é resultado. É só isso que aceito, não adianta você ir numa revendedora de carros e ter uma bonitinha que não vende um carro e tem a feinha que vende um monte. A feinha que é a fera. Você vai deixar para os outros julgarem? Se o cara tem resultado bom, ele é bom e qualquer área. Sou um cara muito procurado e por times grandes demais, não pequenos. Alguma coisa devo ter.

ESTADO – Sua relação com a imprensa às vezes é tensa… MURICY RAMALHO – (Interrompe rindo) Quando estava em casa há três meses sem trabalhar eu assistia a umas entrevistas chatas do caramba. “Ah, e o jogo?”, “ah, e não sei o quê?”…pô, os caras não ganham nada, nem uma porradinha (risos)? O que me tira do sério é cara maldoso e a gente sabe quem é. Às vezes o cara faz uma pergunta dura para você, mas você conhece a índole e sabe que o cara é correto e não tem maldade e então eu aceito. Acredito numa opinião limpa, se merece elogios, elogia; se merece uma crítica, critica, mas sei que às vezes têm maldade. Não aceito cara negativo e no nosso meio na imprensa sei que tem cara que vê o mundo em preto e branco, que nada presta, que só o que antigo é bom. Preservo muito o que é o ser humano e para mim se o cara é correto, ele pode ser duro, mais ou menos ou como quiser porque minha entrevista vai ser numa boa. Mas desde que voltei do Rio e fui para Santos melhorei bastante. Acho que é a idade também, você vai ficando mais velho e a bateria vai caindo um pouco e vamos deixando as coisas um pouco de lado. Só sou assim com os caras malas. Tenho inclusive muitos amigos na imprensa, amigos de sair junto mesmo.

ESTADO – Já resolveu quando irá se aposentar? MURICY RAMALHO – Não defini, mas não vou me alongar muito mais porque tive vários exemplos de pessoas que tentaram esticar a carreira porque isso aqui é muito desgastante. Comecei a ter um monte de coisas que não tinha; tive problema de coluna, já tive diverticulite e várias coisas que vejo como um sinal.

ESTADO – E seleção, ainda pensa nisso? MURICY RAMALHO – Não, não passa mais pela minha cabeça.

ESTADO – Então o São Paulo é seu último clube? MURICY RAMALHO – Pode ser que seja sim. Recebo muitos convites para ir para fora do país, mas não mexe comigo. Não tenho essa ambição, sou muito feliz aqui. Tomara que eu acabe aqui no São Paulo.

ESTADO – E o que pretende fazer quando parar? MURICY RAMALHO – Sou um cara de família. Não sou um cara vaidoso ou de costumes muito diferentes, gosto de ficar com minha família e minha turma, meus amigos de bairro. Minha vida é pautada pela simplicidade, de ir num boteco – o que não consigo fazer hoje em dia. Devo ficar mais ou menos como nesses três meses que estive de férias.

Por Cleber Aguiar – Presidente do Santos cobra Barça sobre valores da transação de Neymar

Fonte: O Estado de São Paulo

Diretoria do clube catalão diz que a diferença no valor deve estar na mão de empresários

Luiz Antônio Prósperi, Raphael Ramos e Sanches Filho

A venda de Neymar para o Barcelona rendeu, até agora, 25 milhões de euros (R$ 74,9 milhões pelo câmbio de terça-feira) aos cofres do Santos. O valor, no entanto, pode chegar a 31,5 milhões de euros (R$ 94,3 milhões) caso o craque seja finalista do prêmio de melhor jogador do mundo dado pela Fifa e se o Santos desistir de disputar um segundo amistoso com o time catalão – no primeiro jogo, perdeu por 8 a 0. Para chegar a esses valores, o Alvinegro fechou quatro contratos com o clube catalão, como explica o presidente Odílio Rodrigues Filho em entrevista ao Estado. O dirigente rebate até mesmo a diretoria do Barcelona, que anunciou ter gasto 65 milhões de euros (R$ 194,7 milhões) para contratar Neymar e diz que a diferença deve estar nas mãos de empresários. Odílio também disse que o Santos planeja assumir o Pacaembu depois que a Prefeitura privatizar o estádio e não garantiu Claudinei Oliveira para 2014.

Santos vendeu Neymar por R$ 194,7 milhões, mas só recebeu R$ 51,2 milhões - J. F. Diorio/Estadão
J. F. Diorio/Estadão
Santos vendeu Neymar por R$ 194,7 milhões, mas só recebeu R$ 51,2 milhões

ESTADO – Depois da saída de Muricy Ramalho, Neymar e outros jogadores importantes, ocupar a oitava colocação do Campeonato Brasileiro e ter chance de se classificar para a Libertadores chega a ser surpreendente?
ODÍLIO –
O Santos está numa fase de transformação. De 2010 para cá, vivemos o período mais vitorioso da história do clube desde a Era Pelé. Disputamos oito finais e conquistamos seis títulos. Quando você vence muito, há uma espécie de fastio de vitórias. O jornalista Mário Filho dizia que a vitória é uma doença que só a derrota cura. Estamos num período de remodelar o time, mesclando jogadores da base com atletas mais experientes. Dentro desse processo de adaptação, essa nossa posição no Campeonato Brasileiro, se não é a que o torcedor quer, é a que gente imagina que poderíamos conseguir.

ESTADO – Qual é a avaliação do trabalho do Claudinei Oliveira. Ele fica para 2014?
ODÍLIO –
Ele tem um carinho e uma convivência muito boa com os jogadores jovens e depois conseguiu criar um ambiente bom com os atletas mais velhos. Ele faz um bom trabalho, mas ainda estamos fazendo o planejamento para 2014 e vamos apresentá-lo na próxima semana ao Comitê de Gestão. Estamos fazendo uma série de análises e só então teremos uma ideia melhor do planejamento de 2014 com relação à comissão técnica e plantel.

ESTADO – Ainda existe a possibilidade de o Marcelo Bielsa ser contratado?
ODÍLIO –
O Santos acalentou o sonho de trazer o Bielsa ou algum treinador da chamada “Escola Bielsa”. Fizemos um esforço muito grande para trazê-lo, mas o Bielsa é muito minucioso e só trabalha em cima de um projeto. Infelizmente não chegamos a um acordo por causa das exigências dele. Ele, por exemplo, só trabalha com 18 jogadores e queria que os atletas ficassem o dia inteiro no CT e dormissem lá. É uma mudança de cultura que precisaria ser feita com cuidado, e no futebol a torcida tem pressa. Também conversamos com o Tata Martino, fomos até a Argentina para fechar com ele, mas aí apareceu o imponderável, que foi o Barcelona. Hoje, voltar a falar em contratar o Bielsa é mais difícil.

ESTADO – O Barcelona anunciou que comprou o Neymar por 57 milhões de euros (R$ 170,7 milhões) e depois disse que o valor, na verdade, era 65 milhões (R$ 194,7 milhões) porque 8 milhões (R$ 23,9 milhões) foram pagos para garantir a preferência na contratação de outros três jogadores. O Santos, no entanto, alega que recebeu apenas 17 milhões de euros (R$ 50,9 milhões). Afinal, por quanto o Neymar foi vendido?
ODÍLIO –
A primeira oferta do Barcelona foi de 16 milhões de euros (R$ 47,9 milhões), pagos em cinco anos. Depois de muita negociação, fizemos quatro contratos com o Barcelona. O primeiro de transferência do Neymar, no valor de 17,1 milhões de euros (R$ 51,2 milhões). Desse valor, 40% foram transferidos para a DIS e 5% para a Teisa. Depois, teve um outro contrato de 2 milhões de euros (R$ 5,9 milhões) caso o Neymar, no período em que estiver no Barcelona, seja indicado entre os três melhores jogadores do mundo pela Fifa. Desse valor, também são 40% para a DIS e 5% para a Teisa. Fizemos ainda um convênio com o Barcelona de troca de informações e tecnologia. Podemos mandar nossos técnicos da base para lá e vice-versa. Nesse contrato, eles têm preferência, em condições de igualdade, sobre três jogadores nossos e foi atribuído o valor de 7,9 milhões de euros (R$ 23,6 milhões), que o Santos também recebeu. E o Santos contratou também dois amistosos. O primeiro lá e o segundo será aqui. Não podendo realizar o segundo jogo, o Santos receberá 4,5 milhões de euros (R$ 13,4 milhões).

ESTADO – Mas por que a diretoria do Barcelona disse logo de cara que gastou 57 milhões de euros no Neymar?
ODÍLIO – Isso criou uma confusão danada. O Comitê de Gestão do Santos notificou o Barcelona exigindo explicação para quem ele pagou esses 57 milhões de euros. Recebemos uma carta deles confirmando que a nós foram pagos 17,1 milhões e que receberemos mais 2 milhões se o Neymar for indicado entre os melhores do mundo. A Fifa também questionou o Barcelona. Temos a cópia da resposta para a Fifa que diz a mesma coisa. Se o Barcelona gastou 57 milhões de euros e para quem foi o restante do dinheiro, o conselheiro do Barcelona é que tem de perguntar para o presidente do Barcelona. A gente até tem ideia que tenha ido de comissão para gente que estava trabalhando para eles na negociação, mas não sabemos para onde foi a diferença.

ESTADO – Como está a renovação do contrato do Neílton, nova joia da base?
ODÍLIO –
A gente fez uma proposta uniformizada para os garotos da base e renovamos com Alison, Jubal e Leandrinho. Quando a gente conversou com o representante do Neílton, fizemos a mesma proposta, mas ele falou que os outros meninos estavam ganhando mais. Mostramos os outros contratos e ele viu que era tudo igualzinho, inclusive com alguns gatilhos, estimulando a performance do atleta. O empresário disse que tinha pensado em um valor bem mais alto. É uma negociação difícil, mas estamos na expectativa de ele ter bom senso e responder. Se ele não aceitar, cumpre contrato até maio.

ESTADO – O Santos planeja construir um novo estádio em Santos?
ODÍLIO –
Não dá para os grandes clubes ficarem sem arena. É uma receita importante. Depois da Copa, o Santos será o único clube grande de São Paulo sem arena. Pela origem do clube, o local ideal seria Santos, mas lá não tem terreno. Na Baixada, participamos de dois estudos, com duas empresas diferentes, mas na hora que fechar o negócio não conseguimos. A arena precisa ter um shopping e escritórios e as taxas de retorno eram mais baixas do que o mercado esperava, então não conseguimos atrair o investidor.

ESTADO – O Pacaembu, então, surge como uma possibilidade?
ODÍLIO –
Nossa maior torcida é em São Paulo e o Santos precisa estar próximo da sua torcida. Então surgiu a possibilidade do Pacaembu. A Prefeitura vai lançar uma licitação e se perguntarem se o Santos quer o usar o Pacaembu e ter o estádio como segunda casa, a resposta é: “Queremos, sim, com muito prazer”. A Vila é nossa casa, nossa sede, mas podemos fazer uma reforma e deixá-la como um estádio-boutique, fazer um restaurante temático e ampliar o memorial. A Vila passará a ser um estádio para eventos menores e a gente vai jogar no Pacaembu, perto de uma grande massa. O Santos não iria investir um centavo, a gente não tem essa condição, mas podemos entrar com um investidor. A gente tem de pensar grande, ter um estádio maior. O Pacaembu é muito bem localizado e o santista gosta.

ESTADO – A participação da Teisa no Santos vai mudar?
ODÍLIO –
Lá atrás, a Teisa adiantou R$ 16 milhões e ajudou o Santos na participação de alguns jogadores. Hoje, ela tem participação no Mena, Cicinho e Arouca, mas isso pode ser ampliado No dia 29 deste mês, a Teisa vai apresentar um modelo novo, em que ela pode comprar jogador para ela ou para outro clube. O Santos tem a preferência e, se não quiser, ela pode emprestar para outro.

ESTADO – Após o afastamento do Luis Alvaro da presidência por problemas de saúde, o senhor remodelou a administração do clube. Quanto já foi economizado com essas mudanças?
ODÍLIO –
A gente está fazendo uma racionalização no custo administrativo do Santos. Quando você faz isso, você privilegia o futebol. Estamos remodelando o organograma do clube e diminuindo alguns salários. Desde janeiro, 39 pessoas já saíram e 15 entraram. Estamos trabalhando com menos pessoas e salários menores. Isso nos dá uma economia de R$ 550 mil por mês.

ESTADO – Quem são esses novos funcionários do clube?
ODÍLIO –
O Santos está investindo muito na profissionalização. Acabamos com a figura do diretor, que é um servidor voluntário e vai lá quando pode. Os tempos modernos não permitem mais isso. Reformulamos o estatuto, algo que considero um grande avanço. O presidente e o vice são eleitos e o Conselho Deliberativo é eleito por proporcionalidade. Assim, conseguimos democratizar o órgão. Entre os conselheiros, sete são escolhidos para formar o Comitê de Gestão junto com o presidente e o vice. O restante é tudo profissional. O Santos acredita em uma gestão colegiada e aposta muito nesse modelo. O clube não depende mais da cabeça de uma única pessoa.

ESTADO – Para o orçamento do clube é fundamental se classificar para a Libertadores de 2014?
ODÍLIO –
O orçamento do Santos é feito apenas em cima de receitas recorrentes. O clube não conta com itens como premiação e venda de jogadores porque isso pode acontecer ou não, mas é evidente que se você conquista títulos, você valoriza a marca. É importantíssimo fazer um bom Campeonato Brasileiro e ir para a Libertadores, porque isso faz a diferença.

ESTADO – O senhor é candidato à reeleição no próximo ano?
ODÍLIO –
Não temos interesse em antecipar o processo eleitoral. Quando se faz isso, você perde o foco da gestão. Existe um conflito no estatuto se eu posso ou não ser candidato, mas não tenho nenhum interesse em abrir essa discussão agora. Isso é a Comissão de Estatuto que tem de decidir e não posso falar sobre isso agora. Ano que vem estarei livre para pensar em eleição.

ESTADO – Como o senhor analisa o Bom Senso FC?
ODÍLIO –
O Santos já emitiu um comunicado de apoio aos jogadores. O clube saiu na frente lá atrás, quando fez um estudo sobre o calendário. Ninguém tem uma solução única, existem várias opções. Mas existem dois caminhos muitos importantes, que precisam ser discutidos. Uma alternativa é fazer uma mudança completa e se adequar ao calendário europeu, começando os campeonatos em agosto e terminando em junho. A segunda é mexer menos e mudar só os Estaduais, que eu acho a mais viável. O Santos está disposto a participar do debate, mas antes de qualquer coisa é fundamental que se reconheça que os atletas precisam ter 30 dias de férias e mais 30 dias de pré-temporada.

ESTADO – O senhor é a favor de que os clubes criem uma liga própria?
ODÍLIO –
Acho que a CBF devia lidar só com a seleção e os clubes deveriam ter uma forma de representação mais autônoma. O modelo da Uefa é perfeito. Lá, os clubes têm uma representação, um presidente e negociam com os patrocinadores. É um modelo de sucesso de gestão.

ESTADO – Como o Santos se posiciona no atual quadro político do futebol brasileiro? O clube está do lado de José Marin e Marco Polo Del Nero ou de Andrés Sanchez?
ODÍLIO –
É preciso esperar e deixar mais claro quem serão os candidatos para a sucessão da CBF e quais são as suas propostas. Por enquanto tem muita especulação. É preciso deixar o processo po
lítico amadurecer mais e, quem sabe, surgirem mais opções.

Por Cleber Aguiar – Entrevista – Juvenal Juvêncio para Folha de São Paulo

Fonte: Folha de São Paulo

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Eu troquei o planejamento por um choque

PRESIDENTE DO SÃO PAULO DIZ ACREDITAR QUE ESTILO DE MURICY PODE TIRAR TIME DA CRISE

BERNARDO ITRI DO PAINEL FC

O presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, decidiu na madrugada de domingo para segunda-feira que precisava trocar de treinador.

Precisou, segundo ele, de dois minutos de conversa para contratar Muricy Ramalho, a quem diz ter ordenado: “Vá lá e resolva”. À Folha, o cartola admitiu erros estratégicos de sua gestão na contratação e demissão de treinadores e disse ter confiança em uma reação do time.

Folha – Como foi sua decisão de trocar de treinador?
Juvenal Juvêncio – É uma situação dolorosa. Mas, num dia, eu via o semblante ruim das pessoas. No outro, também. Essas coisas começaram a se repetir. E eu sem poder contratar, com os mercados fechados. Comecei a temer que, se esperasse mais, pegaria o bonde ladeira abaixo. E queria pegá-lo no planalto. Então resolvi que o time precisava, emergencialmente, de um choque. E o Muricy tem esse jeito mais sanguíneo. Troquei o planejamento por um choque. Resolvi isso num telefonema.

A diretoria não admite haver risco de rebaixamento. Essa troca de técnico mostra que agora há o temor de cair?
Eu já vi isso [queda de divisão] com outros. Já acompanhei, de longe, dramas de outros. Eu não queria passar por isso. Eu queria algo que salvasse a minha honra. Precisava quebrar o diapasão que indicava um quadro ruim, precisava respirar. Ter só duas vitórias [Paulo Autuori venceu apenas duas vezes com o time no Brasileiro] é uma indicação ruim.

Qual foi a orientação para Muricy agora?
Falei para ele: “Você sabe quem está jogando, quem está no banco de reservas. Você conhece tudo lá dentro, a cozinheira, o roupeiro… Vá lá e resolva!”.

Nos últimos anos o São Paulo trocou muito de treinadores. Neste ano demitiu Ney Franco, agora trocou Paulo Autuori por Muricy. O senhor considera que foram cometidos erros neste percurso?
Houve erros ao longo do tempo. Mas temos uma situação complicada. Há uma carência de grandes técnicos no Brasil. Tem técnicos que não têm o perfil da torcida, do clube. Arriscamos com o Adilson Batista [em 2011]. Depois tivemos um cidadão ótimo [Autuori], mas a torcida preferia outro [Muricy].

O senhor acredita que se tivesse contratado Muricy há dois meses, no lugar de Autuori, a situação hoje seria diferente?
É um processo de adivinhação pensar nisso. Mas o estilo do Muricy, mais impetuoso, poderia mexer antes. Talvez ele já tivesse colocado uns dois na rua.

Muricy poderá reintegrar Lúcio, afastado do elenco?
Ele vai decidir quem escalar ou colocar no banco. A diretoria faz seu papel.

A disputa política atrapalha?
Isso é negativo para o clube agora. Alguns já se lançaram candidatos e já morreram. Nós [da situação] fazemos do nosso jeito. Vamos ter um único candidato.

Por Cleber Aguiar – Entrevista do Técnico Oswaldo Oliveira ao Estadão.

Fonte: O Estado de São Paulo

O mentor do milagre em General Severiano, a casa do Botafogo

Entrevista: Oswaldo de Oliveira – Técnico conduz bem um elenco abalado pelos atrasos de salário

Silvio Barsetti – O Estado de S.Paulo

RIO – Campeão da Taça Guanabara e da Taça Rio, o que o levou ao título estadual sem precisar de uma final, líder do Brasileirão até o início da rodada que terminará neste domingo, quando enfrentará o Atlético-PR fora de casa, e em situação privilegiada na Copa do Brasil: eis o Botafogo dirigido por Oswaldo de Oliveira, técnico que consegue a proeza de manter sua equipe no topo mesmo com problemas crônicos de atraso de salários. Em entrevista exclusiva ao Estado, concedida na noite de sexta-feira, o treinador contou como essa façanha é possível, mas também falou sobre sua carreira e sobre seleção brasileira, entre outros assuntos.

ESTADO – Como conciliar salários atrasados com um rendimento que credencia o Botafogo a candidato ao título brasileiro?
OSWALDO – São inúmeros detalhes. Passa pelo nível dos profissionais da comissão técnica e dos jogadores. Há um encontro muito feliz no Botafogo entre pessoas e personalidades. Em conjunção, buscam o mesmo objetivo. Não há segredo. Para ser vencedora, uma equipe não depende de uma comissão técnica competente e de um time de qualidade. Precisa disso, claro, mas também de muita humildade, muita entrega, de se doar para que haja essa combinação e o vento sopre a favor.

ESTADO – Quando começou essa mudança?
OSWALDO – No ano passado, quando houve um processo seletivo de contratação de jogadores e outros profissionais. Fomos muito felizes com a permanência de alguns atletas, entre os quais Jefferson, Marcelo Mattos e Rafael Marques, e com a chegada de outros, como Bolívar e Julio Cesar, por exemplo.

ESTADO – É um momento novo para o Botafogo, com tantos jogadores formados em casa?
OSWALDO – É fruto de um investimento mais recente do clube. Quando cheguei ao Botafogo, em dezembro de 2011, depois de cinco anos no Japão, vi que havia um trabalho bem desenvolvido na base. Aos poucos, fomos incorporando ao grupo alguns desses valores e os resultados começam a surgir.

ESTADO – Vitinho parece cada vez mais à vontade no clube, com desenvoltura de um veterano…
OSWALDO – No ano passado, a gente percebia o potencial dele, mas era muito instável ainda. Não conseguia discernir o momento do chute, do drible, de buscar se posicionar bem. Ele foi aprendendo, aceitando as orientações e se desenvolvendo. Não é surpresa para nós que esteja causando tanto sucesso. Mas ainda está numa fase preliminar, eu diria. Não tem a mesma constância que Dória e Gabriel, outros criados na base do clube.

ESTADO – E qual o papel de Seedorf nessa transformação do Botafogo?
OSWALDO – Ele é diferente. Não estamos acostumados a ver nada parecido aqui no futebol brasileiro, não temos referência para lidar com esse perfil. Tem experiência de sobra, jogou por grandes equipes da Europa, conquistou títulos muito importantes, é um vencedor nato, altamente cuidadoso e atento. Ele se importa com tudo, procura auxiliar o tempo todo. Mas, acima de tudo, mantém uma disciplina, uma obediência, quase que militar.

ESTADO – Até que ponto há uma dependência de Seedorf no Botafogo?
OSWALDO – O jogo da última quinta-feira (vitória sobre o Atlético-MG) responde isso. Ele não atuou e o Botafogo fez uma grande partida. O time já teve outras ótimas atuações sem a presença dele. Claro que o Seedorf acrescenta. Aos 38 anos, com sua exuberância física, técnica e, sobretudo, tática, ele acaba tendo uma influência inquestionável na equipe. Sem deixar de lado que se trata de uma atração midiática. Mas temos no grupo o zagueiro Bolívar, com muita representatividade também. Temos o Jefferson, não menos influente, mas de outro modo, do jeito dele.

ESTADO – Você é um técnico vitorioso, tendo até sido campeão do mundo em 2000, pelo Corinthians. Desde então, o que mudou no seu modo de ver o futebol?
OSWALDO – Muita coisa, a gente aprende algo a cada dia. A minha experiência anterior como preparador físico foi fundamental para a minha vida como treinador. Passei a ser mais criterioso nos últimos anos. Cada vez mais transferindo o foco para as competições, para a temporada. Tive uma passagem muito boa no Japão, onde ganhei nove títulos em cinco anos.

ESTADO –Tem um salão de troféus em casa?
OSWALDO – Nem tantos troféus, mas muitas medalhas, fotografias de jornais, revistas e trouxe um arquivo vivo dos meus cinco anos de Japão: tenho os 250 jogos que comandei lá em DVDs.

ESTADO – Muito se diz que para ser campeão brasileiro não basta ter um time, é preciso de um elenco, de um grupo forte. Como o Botafogo se encaixara nessa lógica?
OSWALDO – Se você for fazer uma análise de momento, há hoje clubes como Internacional, Fluminense, Atlético-MG, Cruzeiro e Corinthians com grupos fortíssimos, de jogadores muito conhecidos. Mas, por outro lado, o trabalho desenvolvido no Botafogo nos permite achar um ponto de equilíbrio.

ESTADO – Com o campeonato próximo da metade, já dá para apontar os favoritos ao título?
OSWALDO – Esse Brasileiro não é um campeonato de time. É de elenco. É muito difícil sobreviver na competição, especialmente neste ano, com a Copa das Confederações, e também vai ser assim no ano que vem, com a Copa do Mundo, sem um grupo forte. Então, a gente por um lado tem os elencos formados, com firma reconhecida e patenteados. E do outro, no nosso caso, a expectativa de que mais garotos apareçam e outros em quem apostamos cresçam. Ainda há, na minha opinião, vários favoritos. Pode surgir um clube que venha atropelando todo mundo. Acho que pode acontecer com os outros três cariocas, com o próprio São Paulo ou o Atlético-MG, sem contar os que já estão ali no alto da tabela. Faltam 69 pontos ainda.

ESTADO – A ida de Neymar para o futebol espanhol sinaliza que o Brasil não tem condições de segurar seus craques?
OSWALDO – Ele é um caso extra. Daqui a dez anos, vamos considerá-lo um dos dez melhores jogadores de todos os tempos do Brasil, mas acho que o futebol brasileiro tem se esforçado para manter aqui os grandes nomes. Perdemos também o Paulinho (ex-Corinthians), mas não vejo a saída do Neymar como uma ruptura nesse processo, lento, de permanência de nossos craques no País.

ESTADO – A seleção brasileira é a grande favorita para a Copa do Mundo de 2014?
OSWALDO – Se me perguntasse antes da Copa das Confederações, eu diria que não. Mas, depois, a confiança cresceu absurdamente. Somos, sim, os favoritos. Aquele descrédito com o ranqueamento da Fifa abateu muita gente, mas aquilo é muito estranho. Uma coisa é o técnico reunir os jogadores por dois dias e enfrentar a Inglaterra. Agora, se há tempo, foi o que se viu na Copa das Confederações, quando não deixamos jogar o badaladíssimo time da Espanha.

ESTADO – Você seria candidato a técnico da seleção depois da Copa do Mundo?
OSWALDO – Existem muitos grandes treinadores no País. Vamos ver o que vai acontecer. Eu já fui cotado duas vezes. Sinceramente, isso é algo que não me seduz, embora ninguém possa negar que esse é um trabalho bem específico e de excelência.

ESTADO – Recentemente, sua esposa, a atriz Jeniffer Setti, usou as redes sociais para criticar o Botafogo. Ela falou sobre o atraso nos salários e a necessidade de reforços. A repercussão daquelas declarações teve algum efeito?
OSWALDO – É melhor esquecer isso, botar um peso em cima. Quando o Botafogo está bem, qualquer coisa ganha uma dimensão negativa incrível.

ESTADO – Mas o atraso nos salários afeta bastante o grupo, não é?
OSWALDO – Claro que afeta, afeta muito. Ninguém está satisfeito com isso, todos nós reclamamos. Estaríamos muito mais tranquilos se os salários estivessem em dia. Sei e vejo que existe um esforço dos dirigentes para tentar resolver a questão.

Por Cleber Aguiar – Entrevista co o Presidente Paulo Nobre do Palmeiras para o Estadão.

Fonte: O Estado de São Paulo

Sônia Racy – Direto da Fonte

‘Dirigente que contrai dívida tem de ser responsabilizado civilmente’

Foto: Paulo Giandalia/Estadão

O presidente do Palmeiras sabe que corre contra o tempo para sanear as finanças do clube. No horizonte, a primeira divisão e o novo estádio no ano do centenário

Segundo presidente mais jovem da história do Palmeiras, Paulo Nobre, 44 anos, tem um desafio e tanto pela frente. Chegar a 2014, quando o clube completa seu centenário, com mais fontes de receita para começar a abater uma dívida estimada, hoje, em R$ 300 milhões.

Como? Investindo no programa de sócio-torcedor, em marketing e na capacidade do novo estádio, o Allianz Parque, que será entregue no segundo trimestre do ano que vem.

Fã de ralis (já foi campeão em diversas modalidades e disputou o Dakar), este advogado paulistano, cujo apelido ao volante é Palmeirinha, sabe bem o que é correr contra o tempo. Afinal, no Palestra, o mandato de presidente é de apenas dois anos.
A experiência como dono de fundo de investimentos tem ajudado. E até parte da oposição (sempre feroz pelos lados do Parque Antártica) anda positivamente interessada nos rumos que Nobre tenta dar ao Verdão.

Em seu dia de 12 horas entre reuniões e planilhas (a maioria delas desalentadora), ele encontrou uma brecha para conversar com a coluna na Academia.

A seguir, os melhores momentos do bate-bola.

Você disse, recentemente, que o Palmeiras ainda não entrou no século 21. Por que?

Porque o Palmeiras ganhou o título de “campeão do século 20” e se orgulhou muito disso. Só que também se abraçou a isso. Já estamos na segunda década do século 21. É muito bom ter um passado glorioso, mas é preciso pensar no presente e no futuro. Como um clube como o Palmeiras, em 2013, tem sistema operacional DOS nos computadores? É piada. Quer outra? Os departamentos não se comunicam. Às vezes, duas equipes estão fazendo a mesma coisa e não sabem. Olha o gasto de tempo! O Palmeiras não tem processo, é uma bagunça. Não sabe agir como aquele jogador mais velho, que vai pelos atalhos do campo, sabe? Por que o Seedorf joga o que joga até hoje? Porque não corre à toa. É questão de processo. Por isso eu digo que o campeão do século 20 ainda não entrou no século 21. Mas vai entrar.

Qual a grande dificuldade, hoje, do Palmeiras?

O clube está há alguns anos num quadro de geração de prejuízo todos os meses. O que você tem de fazer antes de tudo? Reverter a tendência. Para isso, você precisa gerar receita e cortar despesa. É o que estamos fazendo, respeitando duas premissas básicas: o futebol não pode perder a competitividade e você não pode deixar o clube social parar.Muitos conselheiros palmeirenses reclamam que o grande problema é a desunião, todo mundo briga com todo mundo.Eu comparo o Palmeiras com o período que antecedeu o Primeiro Reich alemão. Um monte de feudos que brigavam entre si. Quando se juntaram, se tornaram uma potência.

Há como unir o Palmeiras?

Lógico, mas você precisa despolitizar certas coisas, parar de lotear a diretoria para ganhar uma eleição. E, depois de ganhar a eleição, ter a liberdade de chegar em qualquer grupo, inclusive na oposição, e escolher as melhores cabeças para ajudar a administrar.

Está conseguindo fazer isso?

Meu diretor financeiro fazia parte da chapa da oposição. Por que eu o escolhi? Porque ele é bom, eu confio nele.

A imprensa atrapalha?

O problema é que muita gente usa a imprensa para lavar a roupa suja do clube. O foro para isso é o Conselho Deliberativo. Além disso, o vazamento de certas informações para o chamado grande público nem sempre ajuda. Até porque pressão externa não muda nada. Eu estou na política do Palmeiras há 16 anos. Quando a gente caiu para a segunda divisão em 2002, a pressão externa foi imensa, muito maior do que agora. E não mudou uma vírgula. A mudança tem de partir de dentro, nunca de fora. O conselheiro tem de se conscientizar de que roupa suja se lava em casa. E tem de lavar! As pessoas precisam ter a liberdade de criticar, de falar o que pensam. E quem está no poder tem de aceitar crítica. Se não aceita, está no lugar errado.

As críticas têm ajudado?

Muito.

Qual o papel do Mustafá Contursi na administração do clube?

O Mustafá é membro nato do Conselho de Orientação e Fiscalização (COF), conselheiro vitalício, líder político, uma pessoa muito crítica e de opiniões contundentes. Mas, até agora, eu só tenho a agradecer o Mustafá. Sempre que precisei dele, esteve presente, deixando claro que não quer influenciar na administração. Eu digo a ele: “Presidente, fique tranquilo. Toda vez que o convoco, é porque acredito que o senhor tem experiência para ajudar”. Mas eu ouço muita gente, são opiniões que norteiam a minha decisão.

Muita gente diz que o COF atravanca a administração.

Muito pelo contrário. Ele é o órgão de fiscalização do clube e exerce a sua obrigação estatutária. Sempre que eles fiscalizam, fazem o papel que se espera deles.

O Roberto Frizzo (vice de futebol do Palmeiras na gestão do ex-presidente Arnaldo Tirone) está voltando à vida política do clube. Como você vê isso?

Com naturalidade. Ele, e quem quiser no Palmeiras, tem todo o direito de militar politicamente no clube.

Em relação ao estádio, quanto ele será capaz de ajudar a desafogar as contas do Palmeiras?

Primeiro, os custos com a manutenção do estádio deixam de existir quando ele estiver pronto, algo que deve acontecer no segundo trimestre. O Palmeiras tem participação (em vários graus) nas receitas que a arena gerar. Além disso, teremos entre 33 mil e 34 mil cadeiras. Esta, sim, será uma fonte de receitas importantíssima. O caminho para que o clube saia do cenário em que se encontra está aí.

Mas os preços dos ingressos vão subir, haverá uma elitização?

É natural que isso aconteça. Até por todo o serviço que será oferecido aos torcedores.

E como ficam as torcidas organizadas? Porque elas fazem muita pressão política no clube.

Nossa obrigação é financiar um time competitivo. Haverá, claro, áreas mais populares, mas menores. Quem terá vantagem, sempre, será o sócio-torcedor. Não digo garantia de ingresso, porque teremos mais sócios-torcedores do que lugares no estádio, mas prioridade sobre qualquer outro torcedor. E é muito justo, porque ele é 100% comprometido com o clube, ajuda a financiar o Palmeiras, participa de fato.

O Palmeiras tem hoje quantos sócios-torcedores?

Quando eu assumi o cargo, eram 8.700. Agora, seis meses depois, estamos com 30 mil.

Qual a meta?

Olha, o Inter de Porto Alegre tem mais de 100 mil sócios-torcedores. Eu tenho uma inveja positiva do Inter. Admiro quem faz um trabalho bem feito. E a nossa torcida é muito maior que a deles. Aliás, justiça ao Grêmio também. Inter e Grêmio são os melhores exemplos no Brasil de como fazer um programa de sócio-torcedor. A gente aqui no Palmeiras olha muito para exemplos como esses. E temos a humildade de copiar o que dá certo.

Como está a busca pelo patrocínio master para o time?

As empresas todas fecham o budget de patrocínio para o ano seguinte no mês de setembro. E nós assumimos em janeiro. Além do mais, a gente não pede R$ 2 milhões, pede o que vale a marca Palmeiras. Mas, para o ano que vem, a chance de conseguir é imensa.

É a favor do Proforte, programa de reestruturação das dívidas dos clubes que está para ser enviado ao Congresso como medida provisória?

Sou 100% a favor. Desde que não se brinque com dinheiro público. Como futebol é quase uma religião nacional, acho que o governo pode ter um pouco de compreensão com a situação dos clubes. Mas só se passar a régua e começar vida nova. Precisa haver punições muito severas aos clubes que voltarem a contrair dívidas. Fez dívida, perde ponto no campeonato, cai de divisão. E, principalmente, os dirigentes têm de ser responsabilizados na sua pessoa física. Criminalmente e civilmente, para doer no bolso. Sou a favor, desde que a ajuda venha junto com as regras. Porque é muito fácil dirigente populista adiantar receitas de várias gestões futuras para tentar, na sua administração, ganhar títulos e sair bonitão na foto. Só que, depois, a instituição fica enterrada em dívidas por anos.

É a favor da Copa?

(pensa um pouco) Sou, mas, de novo, acho que não se pode brincar com dinheiro público. Acredito que algumas arenas do torneio custaram caro demais e também que a iniciativa privada deveria ter participado mais do projeto do Mundial.

Sua experiência como dono de fundo de investimento ajuda no dia a dia como presidente do Palmeiras?

Ah, sim. Claro que é preciso fazer adaptações, mas, por exemplo: eu estou tentando implementar um sistema de produtividade no ‘bicho’. Em vez de ser um ‘bicho’ mais substancial a cada jogo, vai ser bem pequenininho. Atingido um objetivo, ele se multiplica. É legal, para mostrar ao jogador que a gente está no mesmo barco, vamos ganhar juntos.

Voltando à primeira divisão no ano do centenário, haverá investimentos no time?

O Palmeiras não será refém do ano de seu centenário. Pode escrever isso: eu não vou fazer loucuras para ter um time capaz de ganhar tudo. A gente já viu isso acontecer em vários clubes. Dá uma dor de cabeça danada e prejuízo. O Palmeiras tem de ser competitivo todos os anos, não apenas no ano do centenário. Nossa equipe é boa, tem raça e respeita a camisa do Palmeiras. Algumas contratações pontuais podem vir a acontecer, caso a comissão técnica julgue necessário. Mas a ideia é ter esse grupo mais entrosado ainda no ano que vem.

Ser o segundo presidente mais jovem da história do clube ajuda ou atrapalha?

Acho que é uma questão de quebra de paradigma. Fui eleito com 44 anos, num meio em que as pessoas se acostumaram a ver dirigentes sempre com mais de 60.

Quantas horas tem o seu dia como presidente?

No mínimo 12 horas.

E vida pessoal?

Não existe. (risos) Meu grande hobby era correr rali, e não sei nem o resultado do mundial. A única certeza é que o campeão do mundo de rali vai ser um palmeirense, o francês Sébastien Ogier.

Ele é palmeirense?

Desde que eu dei uma camisa do Palmeiras para ele, virou palmeirense. Mas voltando à pergunta sobre vida pessoal, o problema é que não dá tempo de fazer mais nada. Eu realmente me preparei, durante a campanha à presidência do Palmeiras, para passar dois anos aqui. Quando é possível, tiro o domingo de folga. Aí, hiberno em casa. E sabe de uma coisa? Nunca dei tanto valor a chegar em casa. Aprendi que o problema de amanhã você resolve amanhã. Não adianta ir dormir pensando no problema, porque você vai dormir mal e, no dia seguinte, resolver mal o problema. Ainda bem que minha namorada é compreensiva e está sabendo administrar a situação. Ela é muito parceira. Até o pessoal da diretoria tem agradecido muito a ela. /DANIEL JAPIASSU

Por Cleber Aguiar – Entrevista de Emerson Sheik para Portal O Dia.

Fonte: O Dia Online

‘Não há do que me retratar’, diz Sheik sobre beijo em amigo

Leo Dias

Na noite de domingo, Emerson Sheik surpreendeu seus fãs (e a torcida do Corinthians) ao publicar uma foto em que aparece dando um ‘selinho’ em um amigo. O rapaz é Isaac Azar, um dos donos do restaurante Paris 6 e amigo de Sheik há anos.

A torcida se revoltou e pediu uma retratação. “Sinceramente, não há do que me retratar, mas eles podem ficar tranquilos. Serei o mesmo Emerson de sempre”, disse o atacante à coluna.

Foto: Reprodução Internet

Qual era a sua intenção ao publicar a foto em seu Instagram?
Nossa intenção, sem dúvida, é tentar ajudar combater a discriminação.

Quem é o rapaz que aparece te beijando na foto?
É o Isaac (Azar), um queridão, sempre me ajuda e é dono de um dos restaurantes mais legais de São Paulo e agora no Rio (o Paris 6).

Foi a primeira vez que você deu um selinho em um homem (tirando seus filhos, claro)?
Tirando os meus filhos, sim. Mas como falei, a intenção é apenas ajudar no combate ao preconceito.

Você ficou surpreso com a reação negativa da torcida?
Não deveria, mas é de assustar a reação da maioria das pessoas, e não apenas da torcida.

Você pretende se retratar com a torcida do Corinthians?
Sinceramente, não há do que me retratar, mas eles podem ficar tranquilos: serei o mesmo Emerson de sempre.

ICFUT – ‘DAR UM SELINHO NÃO FAZ DE MIM GAY”

Fonte: Folha de São Paulo

Mônica Bergamo – Colunista da Folha

Emerson dá selinho no amigo Isaac

O atacante Emerson Sheik e Isaac Azar, dono do restaurante Paris 6, nos Jardins, sabiam da polêmica que iam causar nas redes sociais ao postar no Instagram foto em que davam um selinho. O jogador, em e-mail à coluna, afirma: “Tratando-se do assunto que é, sempre há polêmica. Fizemos justamente [o beijo], pois temos que encarar as coisas de forma normal”.

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Azar conversou na manhã de ontem com a Folha, pelo telefone:

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Folha – Como surgiu a ideia de postar a foto?
Isaac Azar -Já imaginávamos que seria algo polêmico. A ideia surgiu quando estávamos conversando sobre “cura gay”. A questão não é assumir nada. Eu sou casado [com Caroline Azar]. E o Sheik estava lá com a namorada. Quisemos, isso sim, mostrar que não é preciso ser homossexual para lutar contra a homofobia.

E daí decidiram jogar a imagem na rede?
Todo mundo fala, mas ninguém faz nada. Se mais pessoas públicas fizessem coisas desse tipo, o preconceito poderia diminuir. Bruna Marquezine [namorada do jogador Neymar] estava no restaurante quando tivemos a ideia. Até brinquei com ela, perguntando se eu poderia fazer a mesma coisa com o Neymar. Ela deu risada: “Com ele, não!”.

O Sheik pensou na reação irada dos torcedores?
Ele já estava preparado. Até ligou para um assessor do Corinthians e perguntou o que achava. A postagem da foto não foi necessariamente endossada pelo clube, mas o assessor disse que, se a intenção era fazer campanha, de cara limpa, não haveria problema.

O que achou das críticas na internet?
Eu dou selinho nas minhas filhas. Nem por isso sou pedófilo. Dei um selinho no meu amigo, mas isso não faz de mim gay.

Você criou um prato em homenagem ao Sheik? Já está no cardápio da casa?
Criamos em conjunto. Depois que minha mulher ficou grávida e ele nos homenageou [comemorou o gol com gestos de ninar], resolvi criar um prato com o nome dele. Emerson adora frutos do mar. Por isso, escolhemos a paella com arroz arbóreo. No Rio, o prato está no cardápio fixo e é um sucesso. Já em São Paulo, ele não consta no menu. Só come quem conhece [risos]!

Por Cleber Aguiar – ‘Estou feliz porque hoje falam do meu nome’, diz Maxi Biancucchi

Fonte: O Estado de São Paulo

VÍTOR MARQUES – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – Ele é argentino, natural de Rosário, e é um dos artilheiros do Campeonato Brasileiro. Chama-se Maxi Biancucchi, tem 28 anos e joga no Vitória. O parentesco com o primo Messi – lembrado muitas vezes de maneira maldosa pela comparação injusta com o melhor jogador do mundo – já não incomoda como nos tempos de Flamengo, em 2007. “Naquela época, isso me atrapalhou”, disse ele ao Estado. “Estou feliz porque hoje falam realmente do meu nome, seja de bom ou seja de ruim, independentemente do Messi.”

Maxi Biancucchi é argentino, natural de Rosário - Lucio Tavora/Agência A Tarde
Lucio Tavora/Agência A Tarde
Maxi Biancucchi é argentino, natural de Rosário

A seguir, leia trechos da entrevista exclusiva, em que ele fala da infância, de um trauma sofrido no início da carreira e da filha que vai nascer no Brasil e se chamará Vitória em homenagem ao clube baiano.

ESTADO – Como você explica esse bom momento do Vitória no Campeonato Brasileiro?
MAXI BIANCUCCHI –
Nós estamos com uma equipe boa, ordenada e que está fazendo um bom campeonato. Sabemos que é difícil, como foi o jogo que fizemos com a Portuguesa, que vencemos de virada. São equipes qualificadas, mas estamos focados.

ESTADO – Como analisa o time do Corinthians, que vem oscilando na competição?
MAXI BIANCUCCHI –
No Brasileiro, pode acontecer qualquer coisa. Você pode ganhar dentro de casa, como pode ganhar fora. Sabemos que vamos enfrentar uma equipe com grandes nomes, que vem de conquistas como a Libertadores e o Mundial. É uma equipe não temos nada para falar da qualidade dos jogadores. Mas temos um estilo de jogo e condições de ganhar.

ESTADO – Você é um dos artilheiros do Brasileirão, com oito gols. É a melhor fase da sua carreira?
MAXI BIANCUCCHI –
Como disse, nossa equipe é ordenada e estou jogando próximo ao gol, finalizando mais. Estou contente. Com certeza é a minha melhor fase, quando você consegue fazer gols, o que é bom para um atacante. Levando em conta os jogadores que disputam esse campeonato, para mim é muito importante ser o artilheiro.

ESTADO – Por que você nunca jogou na Argentina como profissional?
MAXI BIANCUCCHI –
Saí muito cedo de lá, eu joguei na base do San Lorenzo, mas me procuraram para jogar profissionalmente no Paraguai (no Libertad) e eu tinha 17 anos. Aconteceram muitas coisas, sofri um traumatismo craniano e fiquei sete meses sem poder jogar. Isso atrapalhou minha estreia como profissional. A recuperação demorou mais do que eu imaginava.

ESTADO – Como você se machucou?
MAXI BIANCUCCHI –
Em um treino, pulei para cabecear a bola, mas bati cabeça com cabeça. Não abriu nada, não foi uma batida forte. Mas eu levei a pior. O outro jogador só colocou gelo e eu tive de passar por uma cirurgia. Foi muito ruim, tinha 17 anos, fiquei sete meses sem jogar, em recuperação. Não fiquei com medo (de não jogar mais), mas fiquei triste pela situação. Mas depois, já como profissional, tive propostas de voltar à Argentina, inclusive do San Lorenzo, mas segui outros caminhos.

ESTADO – Como você chegou ao Flamengo, em 2007?
MAXI BIANCUCCHI – Estava
no Sportivo Luqueño (do Paraguai), nós fomos campeões depois de 54 anos e todo mundo ficou com moral. Aí chegou uma proposta do Flamengo, e era uma aposta do Flamengo, até pela minha idade. Tive uma primeira fase boa, fiz gol no Fla-Flu, mas depois me machuquei e perdi espaço, fui para a reserva. E jogador precisa de sequência.

ESTADO – Ficava incomodado quando se referiam a você apenas como primo do Messi?
MAXI BIANCUCCHI –
Era novo, e cheguei com esse nome, e quando você chega a um lugar e falam que você é primo de um jogador querem dizer que você é como esse jogador. Isso atrapalha, e naquela época atrapalhou. Mas hoje trabalho para fazer minha própria história, para que todo mundo me conheça pelo que eu faço, por isso neste momento estou feliz porque hoje falam realmente do meu nome, independentemente do Messi. Naquela época, ninguém me conhecia, quando jogava estavam sempre de olho se era pior ou melhor, comparações absurdas, porque o Messi é o melhor do mundo.

ESTADO – Como foi a infância de vocês em Rosário?
MAXI BIANCUCCHI –
Minha mãe é irmã da mãe dele e nós sempre andávamos juntos. Sempre, em aniversários… Ele morava a uma quadra da minha casa, a gente jogava bola, ele era mais novo, eu tinha uns dez anos, era normal, como qualquer família. Começamos a jogar num clube onde toda a família jogava bola, seu irmão maior, o outro do meio, depois eu, depois Messi, meu irmão, passávamos o sábado inteiro nesse clube de bairro.

ESTADO – Vocês já viam que o Messi era um craque desde pequeno?
MAXI BIANCUCCHI –
Sim, era um cara diferenciado do resto, ele tinha uns cinco anos e pegava a bola e ia de uma trave à outra driblando todo mundo, um absurdo, e isso num campo pequeno, de terra, sete contra sete.

ESTADO – Quando ele foi para o Barcelona, ainda menino, como sua família viu tudo isso?
MAXI BIANCUCCHI –
A primeira coisa que imaginávamos era que o menino seria profissional, isso todo mundo já tinha certeza, e isso já é o mais difícil. E que ele iria ser diferenciado, mas nunca imaginamos que ele teria toda essa genialidade no futebol.

ESTADO -Você mantém contato com ele?
MAXI BIANCUCCHI –
Muito pouco, falei agora antes da Copa das Confederações, conversei pelo WhatsApp (troca de mensagens por celular). Nós dois somos assim, não somos muito de falar.

ESTADO – O Messi vai ofuscar o Neymar no Barcelona?
MAXI BIANCUCCHI –
Os dois são craques, não tem como não dar certo. Acho que o Neymar vai ter de se adaptar, é normal, jogava no Santos, um campeonato diferente, e agora vai jogar em uma equipe já formada, mas vai dar tudo certo lá.

ESTADO – Você será pai outra vez. Sua filha se chamará mesmo Vitória?
MAXI BIANCUCCHI –
Temos uma filha mexicana e minha esposa é paraguaia. E vamos ter uma filha brasileira. Se fosse menino, até disse brincando que levaria para a Argentina. Conversei com minha mulher e vamos colocar o nome de Vitória, minha esposa gostou do significado e eu estou agradecido com o pessoal daqui, que me abri
u as portas.

Por Cleber Aguiar – ‘Já morri uma vez. Não tenho mais medo’, diz ex-goleiro Doni

Fonte: O Estado de São Paulo

Um ano depois de sofrer uma parada cardíaca, jogador larga o futebol de vez e se reinventa como empresário

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GONÇALO JUNIOR – O Estado de S. Paulo

RIBEIRÃO PRETO – Antes de morrer, Doni sentiu uma ânsia doida, uma vontade de vomitar. Aí, seu coração parou: 10, 15, 20 segundos… Os médicos conseguiram ressuscitá-lo com 25. Quando voltou, estava zonzo como se tivesse dormido cem anos. Só conseguiu falar depois de meia hora. E não se lembrava da ânsia. Lembrava de coisas antigas, da infância.

Os 25 segundos, mais ou menos o tempo de leitura do parágrafo anterior, mudaram a vida do goleiro. O exame foi feito no dia 3 de julho de 2012 e conduzido pelos médicos do Liverpool, clube inglês em que jogava. O objetivo era verificar uma arritmia, problema diagnosticado em 2004. Com as complicações, os médicos decretaram o fim de sua carreira. Esperançoso, refez os exames meses depois, na Itália. Dessa vez, ele não morreu, mas a arritmia continuou lá.

Em janeiro, última tentativa no Brasil. Nada feito. Com tantos “nãos”, abandonou o projeto de voltar a jogar futebol pelo Botafogo no Campeonato Paulista de 2014 e agora planeja um jogo de despedida com os amigos.“Deus não quer que eu jogue”, conforma-se tocando o terço prateado, contraponto à camiseta da moda, à calça larga e ao tênis caro.

Largar o futebol não é tão simples assim. Quando o filho Nicholas, que herdou dele os olhos puxados e a fome de bola, diz que gostaria de ver o pai jogando, o gigante de 1,94m e 104 quilos (dez a mais do que nos tempos de bola) treme na base. “Queria jogar um pouco mais por ele. Isso pega. Mas esse é o único ponto que me faz ter saudade do futebol. O resto já está ok”, conta o ex-jogador, que evita assistir aos jogos para sufocar o desejo de voltar.

Também amordaça a vontade de retornar ao futebol a vida atribulada de empresário em ascensão. A d32 eventos é uma empresa de entretenimento responsável pela exposição O mundo dos dinossauros, que fez sucesso no interior de São Paulo e vai rodar por 12 endereços, entre eles o Shopping Vila Olímpia e o Morumbi Shopping, ambos localizados na capital paulista. O próximo passo do ex-goleiro é trazer ao País uma roda gigante de 30 metros da Itália para grandes eventos, como o Lollapalooza (festival de música). Coisa inédita por aqui. Seus projetos incluem a criação da primeira escolinha brasileira da Roma, clube no qual atuou entre 2005 e 2011. Pretende instalar câmeras em todos os campos para que os pais – e os diretores da Roma, preferida para eventuais negociações – possam assistir aos pimpolhos em ação. O trabalho de Doni virou tratamento. “Tenho pouco tempo para pensar no que aconteceu.”

EXCESSOS DE TREINOS
Nabil Ghorayeb, maior autoridade brasileira em Cardiologia do Esporte, explica que arritmia designa as alterações do ritmo de batidas do coração. Pode ter causas genéticas (arritmia pura), decorrer de outras doenças, como mal de Chagas, ou do excesso de treinos. “O excesso de treinos pode deixar o coração suscetível às arritmias”, explica o médico, que é autor da Diretriz em Cardiologia do Esporte, documento da Sociedade Brasileira de Cardiologia e que, entre outras funções, normatiza os procedimentos preventivos no esporte.

Cardiologistas ouvidos pelo Estado avaliam que as paradas cardíacas estão diretamente associadas à arritmia. No caso de Doni, no entanto, pode ter havido erro médico. A hipótese foi levantada também na Itália, onde o ex-goleiro refez exames em novembro do ano passado e não teve nova parada cardíaca. Mesmo depois de fazer testes em que seu coração foi submetido a altas doses de adrenalina, o bichinho não parou. Aos 33 anos, e com o retorno ao Brasil em mente na época, Doni não quis levar a polêmica questão adiante com os médicos ingleses. Deixou para lá. “Não tinha a intenção de jogar até os 40. O futebol é muito desgastante.”

MESMA ROTINA
A arritmia não é uma coisa do outro mundo para um esportista. Estudos conduzidos por Ghorayeb com 12 mil atletas no Hospital Dante Pazzanese e no Incor mostram a incidência de arritmia em 15,5% dos casos. Na população em geral, o porcentual é de 10%. As medidas restritivas, naturalmente, variam de caso para caso e vão desde a inatividade, em que a pessoa não pode nem subir escada, até o uso de medicamentos, passando por restrições alimentares. Doni parou de jogar futebol, mas mudou pouco sua rotina. O prato de salada não é a regra, mas a exceção. Ele não dispensa uma costela no bafo com o amigo e empresário Bordon, ex-zagueiro do São Paulo, e brinca dizendo que adora carboidrato. Da cerveja. Com moderação, tudo bem.

Stela Sampaio, diretora do Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, explica que o problema são os alimentos que aceleram a frequência cardíaca, como café e energéticos – esses são os pecados de Doni. Academia, ok. Isso pode. “Eu não me sinto como um cardíaco porque não tomo remédio. Já morri uma vez. Não tenho mais medo”, brinca o campeão da Copa América em 2007.

Doni fala bem, olha nos olhos e diz frases com começo, meio e fim. Está feliz da vida porque finalmente participou de um aniversário dos filhos. Thalita, a mais velha, fez nove anos na sexta. Seu projeto é a família.

A cabeça também não mudou. Continua brincalhão. Vai à missa, mas com moderação. Ele só contou para a mãe a história da parada cardíaca dez dias depois, mas não perdeu o bom humor mesmo diante do fervor católico de dona Rose. “Mãe, suas orações foram em vão. Eu fui lá e vi que não existe céu, nem inferno”, provocou. A mãe não respondeu na hora, mas retornou a ligação no dia seguinte. “Filho, 25 segundos é pouco tempo. Não deu tempo de você chegar ao céu.”